Entidades subscrevem nota da ABEPSS de solidariedade ao professor Diego de Oliveira Souza
Em janeiro, o professor foi deportado do México ao tentar entrar no país para realização do estágio pós-doutoral
Entidades e programas de pós-graduação subscrevem nota de solidariedade da ABEPSS ao professor Diego de Oliveira Souza (Ufal), que foi detido e deportado do México, ao tentar entrar no país para a realização do estágio pós-doutoral, no dia 27 de janeiro. O docente, os dois filhos, sua companheira e sua sogra foram acusados, pela imigração do país, de portar vistos falsos.
O docente conta que ficou mais de 9 horas no Aeroporto Internacional da Cidade do México, incomunicável e afastado de sua família em um alojamento com outras pessoas que haviam sido detidas.
“Disseram que eu tinha que ficar separado da minha família por uma questão de gênero, sendo que a minha esposa fala que, no local que ela ficou, haviam homens e então, retiraram todos os nossos pertences, inclusive celular. No meu caso, até cadarço de tênis eu precisei tirar, a minha bagagem de mão ficou no armário, não tinha acesso a nada. E fui para um dormitório, onde existiam todos os tipos de casos, de injustiçados, mas também gente que tinha cometido alguma ilegalidade na questão de produtos de contrabando, de histórico de atravessar famílias para os Estados Unidos”, relata o professor sobre a grave situação que enfrentou.
Após esse período, ele e sua família foram embarcados em um avião que iria para Bogotá, na Colômbia, onde ficou por mais 12 horas no aeroporto, sendo escoltado por seguranças, até embarcarem de volta ao Brasil.
Diego é professor da Universidade Federal do Alagoas (Ufal), credenciado ao programa de pós-graduação em Serviço Social, e iria ficar alguns meses no México, na Universidad Autónoma de la Ciudad de México (UACM), na qualidade de bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
No regresso, na escala em Bogotá, o professor destaca que só podia sair para comprar alguma comida ou bebida escoltado pelos seguranças. “Lá a gente ficou isolado em uma sala de embarque desativada, monitorados pelos seguranças, onde a gente podia comprar comida e água, desde claro, que a gente tivesse dinheiro e acompanhado pelos seguranças. No México, a gente recebeu uma alimentação custeada pela companhia aérea, eu acho que a política de imigração prevê esse direito. Mas em Bogotá, tudo foi custeado por nós, e se tivesse um segurança disponível, ele tinha que me acompanhar em um local do aeroporto, para eu poder comprar comida. Nem sempre isso foi possível. Teve uma hora que os meus filhos queriam comer, chorando querendo comida e não tinha ninguém disponível para sair comigo ao restaurante ou loja de conveniência”, relata o professor.
O professor chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro, no dia 29 de fevereiro. E além de ter que encontrar hotel, ainda teve que buscar voo de volta a Maceió, e só conseguiu voltar para a sua cidade no dia 1º de fevereiro.
Na nota, a ABEPSS, 15 entidades e 35 programas de pós-graduação da área 32 na Capes prestam irrestrita solidariedade a Diego e sua família. “Frente a esta atrocidade, a Abepss presta sua irrestrita solidariedade a Diego e sua família, ao tempo que solicita esclarecimentos das autoridades competentes. Entendemos que este ato constitui um atentado à liberdade e ao avanço da ciência e tecnologia, tão necessário ao bem-estar e solidariedade entre os povos”.
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Solidariedade
“Então, toda a frustração acadêmica, emocional, o trauma de não saber o que estava acontecendo com os meus filhos e de minha esposa também, sem saber o que estava acontecendo comigo, a preocupação com ela, com a minha sogra, uma frustração dos planos feitos, o dano financeiro, não só os gastos já realizados, de coisas que não pude usufruir, como apartamento alugado, as passagens, assim como os gastos emergenciais, da deportação, é agora um transtorno que tenho que lidar”, destaca Diego.
O docente conta que receber o apoio das entidades, como a ABEPSS, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), programas de pós-graduação, sindicatos, tem sido importante para seguir em frente. Foram mais de 15 cartas “que foram muito importantes, tanto do ponto de vista emocional, para começar a tomar providências, quanto do ponto de vista da repercussão positiva”, destaca Diego.
Ações
Diego conta que a sua pesquisa seguirá. Ele reforça que o CNPq, que financia essa parte do projeto, disponibilizou a possibilidade de prorrogação da realização do plano de trabalho e de estabelecer parceria com outra instituição em outro país.
O professor destaca que a Universidad Autónoma de la Ciudad de México (UACM) agiu rapidamente e chegou a enviar um advogado ao aeroporto, mas não adiantava mais. A instituição também emitiu uma carta de repúdio, uma denúncia pública e uma petição online.
O Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, respondeu a uma carta enviada pela advogada do professor Diego, que irá convocar o cônsul mexicano no Brasil para uma conversa. A Ufal também disponibilizará assistência ao professor.
“Não foi só um ataque ao cidadão brasileiro Diego e a sua família, não só o pesquisador Diego, mas de alguma forma é um ataque à ciência, a gente se pergunta como o Brasil pode manter boas relações científicas com o México se pesquisadores brasileiros vão ao México e são tratados dessa forma. Isso vai se repetir? Houve violações dos meus direitos humanos, nem uma ligação eu tive direito. Como serão tratados estudantes brasileiros que vão fazer intercâmbio, graduação no México, isso é extremamente complicado. Precisa ser revisto. Todo ser humano precisa ser tratado como ser humano. As acusações como foram feitas, eu entendo que o México, qualquer país tem soberania de decidir quem entra no seu país, mas uma vez que eles estabelecem critérios objetivos para entrada, e eu atendo a esses critérios e, de repente, eu sou tratado como fui, isso precisa de fato ser criticado, e ser resolvido pela via diplomática, pela via jurídica”, destaca Diego.
A ABEPSS reafirma sua solidariedade ao professor Diego e sua família, bem como o compromisso histórico do Serviço Social brasileiro na defesa intransigente dos direitos humanos. Coletivamente
“Em luta, seguimos atentas e fortes: Luciana Cantalice, presente!”.